quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Um conto de Natal sem encantos

Um conto de Natal sem encantos

Por jlcaon@terra.com.br



Papai Noel despachara-se de todos os compromissos na cidade. Deixara em ultimo lugar a entrega dos presentes às crianças de um casebre humilde sem luz elétrica, sem água encanada, enfim, muito parecido com a estrebaria onde se diz teria nascido Jesus.

Chegado ao casebre, foi convidado a subir na sacadinha a três degraus do chão. De lá viu pela porta que estava aberta um movimento de entra e sai do quarto do casal. Era a parteira e uma ajudante que se revezavam buscando água no balde da cozinha.

Papai Noel, por ser estranho e homem, não podia entrar no quarto. O pai das crianças disse que a mulher estava dando à luz ao quinto filho. Papai Noel se escusou. É que no saco tinha somente quatro presentes que logo entregou a cada um dos quatro filhos do casebre.

Depois de esvaziar o saco, dando um presente a cada uma das quatro crianças, cochichou, meio envergonhado, ao ouvido do dono do casebre, que porventura se chamava José:

- Andei tanto e muito depressa debaixo dessa canícula brasileira que até me esqueci de desabotoar esse pesado uniforme de inverno e pior ainda, esqueci de fazer minhas percisões. Agora estou a perigo!

- O senhor pode se servir aí nesse quartinho lá naquele penico. É que não temos água encanada ainda.

No escuro, Papai Noel se livrou da outra bagagem pelos dois orifícios. E se limpou acertadamente apesar de estar no escuro. Mas, ao abrir a porta percebeu que ele fizera algo errado.

Nervoso, envergonhado, gaguejando, conseguiu responder à pergunta do José:

- O senhor não se aliviou das percisões?

- Se me aliviei? Sim. Mas, no escuro...

- Entendi, - disse José – embora quisesse dizer “cheirei”. Mas, não se avexe. Não é a primeira vez que as crianças limpam o chão desse quartinho.

De fato, as crianças felizes com os presentes, obedeceram imediatamente ao pai. Mas, na pressa de volta o quanto antes aos brinquedos, usaram o saco do Papai Noel, enchendo-o com o que Papai Noel deixara esparramado pelo chão do quartinho. E voltaram a seu divertimento.

Triste sozinho, sem dizer palavras, Papai Noel, apertou a mão do José, abanou para as crianças e pegou a estrada.

José ia entrar, pois ouvira o choro de um recém-nascido. Mas antes de entrar no casebre, olhou para o céu estrelado e silencioso. Depois olhou para a estrada solitária pela qual solitário Papai Noel caminhava, subindo a colina. E não viu outra coisa senão um velho, alquebrado, ridiculamente vestido de uniforme de inverno, sem saco, subindo devagar, cada vez mais devagar até desaparecer na curva da estrada.





Nenhum comentário:

Postar um comentário