quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Em que moral e política que tratam das relações humanas diferem do que é ética em pesquisa psicanalítica

Análise de “ceder de seu desejo” em pesquisa psicanalítca



Por jlcaon@terra.com.br





Primeira observação: O que chama a atenção na formulação de Lacan, pode ser o emprego do verbo “céder”, usado com a preposição “de”, “céder de”.






Segunda observação: Nem o Petit Robert nme o Domingos de Azevedo trazem essa contrução em seus respectivos verbetes.






Terceira observação: A terminologia jurídica, constantemente em prega “ce¬dente” e “cessionário”. Cedente é o que faz a cessão, o que cede um direito; o cessionário é o que recebe a cessão.






Quarta observação: Na atualidade, o emprego “céder de” é comum e, a meu ver, esse “de” deve ser analisado gramatilcamente como partitivo. Carole Martinez a réussi à être populaire sans jamais rien céder de son exigence littéraire. Pierre Assouline - La république des livres (blog du Monde).






Quinta observação : O Babylon traz a seguinte tradução para « to relinquish his right »


céder son droit (Il a décidé de céder de son plein gré). Então “He relinquished his right” é traduzido por “ele abriu mão de seus direitos (decidiu ceder aos seus direitos). “Ceder seu desejo”, “ceder de seu desejo”, é abrir mão de seu desejo; abdicar de seu desejo; abandonar seu desejo.






Sexta observação: O “Michaelis Moderno Dicionário Inglês-Português (English-Portuguese) diz que “relinquish” se traduz por: VT. 1. Abandonar, desistir de. 2) ceder. 3) renunciar a. 4 capitular;






Sétima observação: O “Grande dicionário Fancês/Protuguês” de Domingos de Azevedo informa no verbeter “cede”:


v. t. Ceder, abandonar, deixar, desistir, renunciar. Comécio e juro - Ceder, transferir para outra pessoa a propriedade de uma coisa: Ceder os seus direitos.


v. i. Ceder, curvar-se sob o peso, sob a pressão, dar de si, mover-se. Ceder, diminuir de intensidade, en¬fraquecer: a febre aca¬bou por ceder. Consentir, condescender, aquiescer.


Fig. Ceder, deixar de resistir, não se opor, fraquejar, submeter-se, sucumbir. recuar diante do inimigo; e (fig.) deixar progredir alguém em detrimento próprio.


Céder le pas, ceder o passo, deixar passar adiante alguma pessoa por civilidade; e (fig.) reconhecer-lhe superioridade, deixar que ela exerça supremacia.


Le céder, reconhecer-se vencido,• ceder a vitória; ser inferior a alguém ou a alguma coisa.


Céder à, ceder, submeter¬-se, curvar-se a; reconhecer a superioridade de.


Se céder, v. pr. Ser cedido, abandonado, con¬cedido.


Ceder, abandonar ou conceder mutua¬mente. [Sin.] Céder, acquiescer, se rendre.






Oitava observvação : O « Petit Robert, Dicitonnaire de la Lqangue Française » registra o seguinte :


.01. v. Tr.


.1º Abandonner, laisser à qqn. V. Concéder, donner, livrer, passer, transmettre; refiler [reppassar](pop.). Céder sa place, son tour à qqn. Céder un objet auquel on tient. Céder du terrain : reculer, battre en retraite; fig. Faire des concesssions, un compromis.


.2° Droit. Transporter la propriété d'une chose à une autre personne. V. Concéder, dessaisir (se), livrer, rétrocéder, transférer, vendre. Céder un magasin, un fonds, un bail, une créance (V. Cession). Un bien qu'on ne peut céder (incessible. Celui qui cède (cédant), à qui on cede (cessionnaire) qqch.


.3° Fig. Vieilli. Le céder à qqn : être inférieur à lui, se reconnaitre au-dessous de lui. Moderne : Il ne lui cede en rien : il est son égal.


.02. V. tr. indir. (XVIe).


.01. CÉDER À : ne plus résister, se conformer à la volonté de (qqn). V. Acquiescer, consentir, déférer, obéir, résigner (se), soumettre (se). Céder à qqn, à ses prières, à ses menaces. - Se laisser aller. V. Écouter, succomber. « Il cédait plus volontiers aux impulsions du coeur qu'aux remontrances de la raison )) (DUHAM.)


.02° Absolt. V. Capituler, faiblir, flécbir, lâcher (lâcher pied), mollir, plier, reculer, rendre (se), renoncer. Céder par faiblesse, par lassitude. « Je refuse tout nouveau combat. Je cède, vous comprenez, je renonce. Je fais la paix ) (DUHAM.). - Céder devant les menaces, l'insistance. ,<> Spécialt. (En parlant d'une femme) S'abandonner à un homme .03. (1798). Choses. Ne plus résister à la pression, à la force. V. Abaisser (s'), affaisser (s'), courber (se), écrouler (5'). enfoncer (s'). fléchir, plier, ployer, rompre. Une branche qui cède sous le poids des fruits .


.04° (Abstrait). Disparaitre, cesser. « Cette irritation céda bientôt pour faire place à un frémissement mystérieux )) (BARREs). V. Tomber.


<> ANT. Conserver. garder. Résister. Entêter (s’). obstiner (s'), opposer (s'), repousser, révoter (se), tenir (bon).






Nona observação : Dizer « ceder de » em brasileiro tranpondo o “cécer de” pode ser considerderado um francismo segundo os puristas. Todavia, o partitivo é também corrente no português brasileiro. “Você quer pão?” – “Sim, quer um pedaço (de pão).


Quando Lacan emprega o partitivo como se vê no exemplo da Obsrvação Quatro, percebe-se que a exigência da ética psicanalítica não se refere à renuncia ao desejo como um todo (isso é impossível!), mas, a seu exercício, digamos, a porções dele. Então, a oferta da chamada consagração a Nossa Senhora proposta pela catequese católica é uma blefe, pois que não se pode ofertar o inofertável, ceder o incedível. Dessa forma, deve-se entender aquilo que Jung dizia, ao ser perguntado sobre como se entender a consagração de si mesmo à divindade: “Cada qual entrega aquilo que menos valoriza!” Na verdade, não entrega, pois é inentregável. Mas, pode hipotecar.






Décima e última observação: Há um provérbio que se ouve no falar popular: “O que é do homem, o diabo não come!” Isto é, se é irroubável é também incedível, inofertável. Trair o próprio desejo não é entregar o inentregável, é não fazer uso dele, ou fazer uso dele segundo o desejo do outro.


Então é perfeitamente conseqüente a outra proposição de Lacan: “O herói pode ser impunemente traído”. Herói é aquele que não cede do (exercício) do desejo próprio. Então, Judas foi traidor, mas por que foi traidor, se Jesus, enquanto herói que não abriu mão do próprio desejo, não poderia ser traído? Ora, sabe-se que Judas era sujeito do próprio desejo e que não era o desejo de Jesus. Judas foi traidor do desejo próprio – libertar o povo do jugo romano – quando, pelo suicídio, abandonou a própria causa. Não se suicidou porque foi traidor, é traidor porque se suicidou. Judas traiu o próprio desejo. Jesus era sujeito de outro desejo, assim também Sócrates, Buda, o personagem de Sófocles, Antígona.






NOVAMENTE UM QUARTO DE MIL:






Ética da psicanálise por Lacan






jlcaon@terra.com.br 120119030507






S07-24 de 06jul1960: Resumo das quatro proposições de Lacan: “Não poderás não desejar o objeto a pequeno e não tomarás em vão esse objeto a pequeno”.














"A única coisa da qual se pode ser culpado é de ter cedido de seu desejo."






"Em segundo lugar, a definição do herói – é aquele que pode impunemente ser traído."






"Em terceiro lugar, isto não está absolutamente ao alcance de todo o mundo, e é a diferença entre o homem comum e o herói, mais misteriosa portanto do que se acredita. Para o homem comum a traição, que se produz quase sempre, tem como efeito o de repeli-lo de maneira decisiva para o serviço dos bens, mas com a condição de que ele não reencontrara jamais o que o orienta verdadeiramente nesse serviço."






''Enfim, o campo dos bens, naturalmente que existe, não se trata de negá-los, mas, revirando a perspectiva que aqui lhes proponho, quarta proposição – Não há outro bem senão o que pode servir para pagar o preço ao acesso ao desejo -, na medida em que esse desejo, nós o definimos alhures como a metonímia de nosso ser. O arroio onde se situa o desejo não é apenas a modulação da cadeia significante, mas o que corre por baixo, que é, propriamente falando, o que somos, e também o que não somos, nosso ser e nosso não-ser – o que no ato é significado, passa de um significante ao outro da cadeia, sob todas as significações."

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