quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Diário de campo para 12-13 de setembro de 2012 (a continuar)



Diário de campo de 12-13 de setembor de 2012.

Frequentemente utilizo um experimento impossível para dar a entender a impossibilidade de contar tudo, tudo esgotar, um dos secretos desejos dos escritores. Nesse experimento impossível, o escritor fica durante alguns anos escrevendo a biografia. Ao entregar os diversos volumes ao editor, esse lhe diz que fala ainda o volume que narra o tempo em que o escritor estava escrevendo a autobiografia. E quando retorna com mais um volume, o editor ainda lhe pede mais um adendo...
A insuportável incompletude de quem escreve leva alguns a escreverem ao lado da obra em que estão envolvidos também um diário de campo. Mas, esse diário de campo é frequentemente um monólogo, mais um monólogo, guardado a sete chaves. Quase nunca esse diário de campo é uma literatura epistolar em cima do lance, onde a conversação pode se dar entre o escritor que escreve a um leitor e um leitor que escreve a um leitor.  Chamemos ao primeiro de escritor e ao segundo de escrevedor. Ambos são leitores, provavelmente, o primeiro mais ávido que o segundo.
É dessa avidez, guardada como desejo secreto pelo escritor, que, a meu ver inicial, faz com que os escritores acabem ficando mais conhecidos do que suas obras. E há razões para tanto: a rapidez com que passamos pelo dia atualmente repartido inúmeras e quase incontáveis tarefinhas; a produção consumista que as mídias sugam como buracos negros ou como manantiais (com “t”) como queria Simões Lopes Neto no seu conto. Todavia, o donominador comum me parece justamente ser essa inuportabilidade da incompletude.
Mas, já que os escritores vivem famintos e sonhando com a opinião dos leitores e se consolando não com uma CONVERSAÇÃO imediata com eles, mas metonimizando essa fome com alguns dos personagens dos próprios textos, cabe perguntar se mesmo escrevendo uma literatura dialogada (pelo menos com seus personagens) não estão fazendo apenas um monólogo. E depois que o texto, saído do prelo, circula, para que serve ao escritor querer CONVERSAÇÕES com o leitor. Esses procedimentos que mais tornam conhecidos os escritores do que as obras deles não são uma reedição do culto à vaidade e como tal uma produção paralela à produção literária, uma e outra servindo de distração poderosa contra a insuportabilidade da incompletude.
Há pouco tempo, sondando esse espaço entre escritor e leitor, lancei mão do que se pode fazer com o que nos é oferecido pelo yahoo e pelo facebook. Consegui criar um espaço de comunidade epistolar solidária (CES) com endereço eletrônico no yahoo e no facebook. Esse experimento possível revela que não somente os escrevedores sofre de inibições inimagináveis, severas e eficazes, mas também que os escritores não conseguem se manifestar como escrevedores.
Atualmente, sabe-se, com os estudos da psicogênese dos textos, que os borrões dos escritores, com certa frequência, revelam mais literatura do que os textos aprovados pelos editores. A possível CONVERSAÇÃO imediata com o outro estrangeiro, condição única e sine qua non do escritor e do escrevedor compartilhar a própria incompletude existencial, continua sendo secreto e inconfessado desejo de um e de outro. Perante isso, não podemos olhar para esse mar de textos formando um só texto, como um oceano de incontáveis pingos formando um único pingo? À deriva, escritor e escrevedor, poderiam ir se falando, digitalizando, em cima do lance, retomando a literatura epistolar praticada por alguns escritores e escrevedores do passado, servindo-se do correio comum – pensemos ocasionalmente em Freud (escritor) e Fliess (escrevedor), ou vice-versa, - e, atualmente, procedendo da mesma maneira, servindo-se do correio-eletrônico. Mais, hoje é possível que escritor e escrevedor se falem, digo digitalizem – perante outros leitores, escrevedores ou escritores. Os blogs, os grupos yahoo, facebooks, etc., não estão revelando que os diálogos dos personagens dos escritores  dissimulando o próprio monólogo – sejam romancistas, teatrólogos, etc., - pode sobreviver no surfe transitório, imediato e vivo de cada presente que é nossa única eternidade?
Pois que não adiante fazer um filho, plantar uma árvore, escrever um livro ou outro subterfúgio, todos partimos irreversivelmente, e no presente, porque ninguém morre no passado nem no futuro, mas no presente.   

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A apresentação da CES (comunidade epistolar solidária) encontra nos portais, no espaço yahoo e facebook, respectivamente.

Caro Karnas, nós escrevemos no portal da CES (Comunidade Epistolar Solidária):
“A maior revolução pedagógica acontece nos momentos em que a classe de aprendentes fica disposta em círculo, onde um participante enxerga a todos e todos enxergam a um, e onde cada participante, em PÚBLICO, dirige a palavra a UM interlocutor que, por sua vez, lhe responde, imediatamente e em público.
Trata-se de modalidade de exercício do diálogo vivo e prático, como Aristóteles teoriza em “Tópicos”, Kant em “Lógica” e H.P. Grice em “Lógica e conversação”
No ambiente escritural, essa forma de interatividade dialogada se dá, em parte, por cartas enviadas pelo correio comum. Todavia, as cartas não costumam ter publicidade imediata. Sabe-se raramente de carta publicamente enviada a um interlocutor. Esses são os limites em que estava a literatura epistolar.
Atualmente, graças à invenção do correio eletrônico e à organização de grupos internéticos, como os grupos yahoo e facebook, a literatura epistolar pode ser PUBLICAMENTE retomada, redimensionada e praticada no momento mesmo da sua produção, democratizando, assim, o ambiente internético, como se democratiza o ambiente áulico.
É a interescritura em público que torna capaz um escritor, profissional ou amador, a sair de sua solidão e a escrever para o leitor que lhe escreve. Ganham os interlocutores, ganham os participantes e ganha a democracia.
Carlos Fernando KARNAS, jornalista, e José Luiz CAON, psicanalista, depois de diversas iniciativas, em ambiente escritural, com grupos de participantes presenciais, semipresenciais e à distâncias, postos imediatamente a escrever para leitor que escreve, estamos animando mais essa iniciativa de literatura epistolar pública, em cima do lance, nessas duas comunidades internéticas abertas ao escritor profissional ou amador, disposto a escrever para o leitor que escreve.
De Caçapava (SP) e de Porto Alegre, 17fev2011
        
         Disse que isso se encontra no portal dessa Comunidade Epistolar Solidária do yahoo, comunidadeepistolarsolidaria@yahoogrupos.com.br. O verbo latino “sóleo”, “solére”, significa ter o costume de, e em brasileiro temos, frases, assim: “isso sói acontecer frequentemente”. Sólido é um particípio passado e solidário é aquilo que costuma acontecer. Então, se eu costumo me fazer acontecer, então, eu sou solidário. Mas, se não costumo me fazer acontecer, então sou esporádico.
Muitos conhecem o termo “solidário” no sentido de “voluntário”, “compassivo”, “participativo”, evidentemente coisas de valores humanos promovidos até pelos avarentos que abençoam aos praticam esses valores, embora ele, os avarentos, não podem perder sua devoção ao capital em forma de dinheiro, sonante ou fictício, pois seria perder a própria identidade. Que o capital em forma de dinheiro nos escravize, quando ele nos faz falta, nada surpreendente. O que me surpreende é que, em tendo capital, em forma de dinheiro, o avarento (também conhecido como rico) não pode não ser escravo desse capital sob forma de dinheiro sonante e agora também fictício. O estado de coisas assim ultrapassa a qualquer noção de nossa limitadíssima psicopatologia.
E assim retomo nossa conversação, sempre assoprado por Pascácia, Estafermo e Gioconda que perguntam por ti. Abr jlc


O painel de hoje, dia 12 de setembro, a partir das 19 teve a participação de Ana Mariano, advogada, poeta e escritora;  Dulcinea Santos, crítica literária e escritora; Luiz-Olyntho Telles da Silva, psicanalista e escritor; membro de Biblioteca Sigmund Freud; de Virgínia Helena Vianna Rocha, advogada,  poeta e escritora e de Waldomiro Carlos Manfroi, médico e escritor; Ex-Diretor da Faculdade de Medicina (UFRGS); Membro da Academia Sul-Riograndense de Medicina - Membro da Academia Sul-Riograndense de Letras - Professor Emérito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Dulcinea Santos, escritora e crítica literária, fez um raio-x inicial dos contos gauchescos de Simões Netto, que vale para outros contos cujo tema é o gaúcho riograndensedossul. Guardei as referências que ela fez Heideger cujo método de pesquisa é o procedimento de esquecimento-desesquecimento (lethé-alethé), método que é também proposto frequentemente por Lacan. Outrossim, trouxe Dante de Alighieri que de fato é ao mesmo tempo autor, narrador e personagem protagonsita principal de seu “diário de vida” e comparou-o ao célebre personagem Blau Nunes, de Simões Lopes Neto.
Ana Mariano, fez muitas aproximações, especialmente servindo-se de um poema de Carlos Drummond de Andrade, “Desaparecimento de Luísa Porto” http://www.releituras.com/drummond_luisa.asp, acentua o olhar de soslaio, em paralaxe, pois que não somos capazes de olhar diratamente perante o sol, a morte, assim sendo, a literatura é um olhar de soslaio. Ela é autora do  livro “Atado de ervas” retrata a gauchidade recente http://lpm.com.br/site/default.asp?Template=../livros/layout_produto.asp&CategoriaID=836453&ID=645355
 Waldomiro Carlos Manfroi, médico e escritor; Ex-Diretor da Faculdade de Medicina (UFRGS); Membro da Academia Sul-Riograndense de Medicina - Membro da Academia Sul-Riograndense de Letras - Professor Emérito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, que escreveu sobre a inserção dos imigrantes pobres, deportados da Itália para o Brasil, “A confissão do espelho”, suscitou diversas aberturas de como a gauchidade atraiu esses “miseri coloni”. Eu mesmo me lembro que meu pai, Jocondo Caon, que era professor primário, sempre me lembrava o lema: “Sou brasileiro, gaúcho verdadeiro”. Elvira, minha mãe, por sua vez me fez uma bombacha e as alpargatas eram frequentes entre nós, naqueles grotões próximos do rio Jararaca em Antônio Prado. E o chimarrão sempre esteve presente desde que me conheço por gente. A erva mate era colhida, tratada no forno e moída num pilão por nós mesmos. É curioso que o “mísero colono”, sem-terra, que busca paradeiros em Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso e no Norte e Nordeste do Brasil ele continua se chamando de “gaúcho”, torcendo pelo Grêmio ou pelo Internacional.
Luiz-Olyntho Telles da Silva, psicanalista e escritor; membro de Biblioteca Sigmund Freud; se posicionou a partir da psicanálise lacaniana. Ponto alto da fala dele referiu-se ao termo “manancial”, que também aparece escrito com “t”, “manantial”. E aprentou o texto “No manatial” de Simões Lopes, onde o termo “manantial” aparece não menos do que 17 vezes. http://produtoculturalgaucho.blogspot.com.br/2011/12/no-manatial-de-simoes-lopes-neto.html
Todavia, há o termo “manancial” que significa nascente, jazida: http://mundoestranho.abril.com.br/materia/o-que-sao-mananciais. E na literatura mística, manancial é fonte de bens e graças divinos. Então, por um lado a mulher enquanto mãe é manancial (fonte de bens) para a criancinha e é um manantial (sumidouro) enquanto parceira. E é entre a mulher enquanto manantial e manancial que a gauchidade se prosterna e também hesita, pois que prenda e chinoca é uma estância intermediária.
Por fim, Virgínia Helena Vianna Rocha, advogada,  poeta e escritora é a anfitriã que também trouxe suas vivências de fronteira, desse mundão que não é nem Brasil nem Uruguai.

TRÊS PONTOS EM COMUM

CONVIDA
PARA A HOMENAGEM AOS

CEM ANOS DE
CONTOS GAUCHESCOS

JOÃO SIMÕES LOPES NETO:
LINGUAGEM E RELEITURAS
jsLN
Nos dias
12, 13 e 14 de setembro de 2012
no
Instituto NT de Cinema e Cultura
Rua Marquês do Pombal, 1111
Moinhos de Vento – Porto Alegre
(Entrada franca)

P r o g r a m a

Nos dias 12, 13 e 14/09:
Horário: das 14h às 23h
Abertura: dia 12/09, às 20h30
(Será servido um vinho de honra)
Exposição de pinturas e gravuras dos artistas
Angela Pettini
Arlete Santarosa
Cylene Dallegrave
Dânia Moreira
Eda Lani Fabris
Eliane Santos Rocha
Esther Bianco
Jane Machado
Jussara Schivitz
Lília Manfroi
Mabel Fontana
Márcia Rosa
Paulo Olszewski
Raquel Lima
 
Dia 12/09
Às 19h
Painel com a participação de
Ana Mariano
- advogada, poeta e escritora -
 Dulcinea Santos
- crítica literária e escritora -
Luiz-Olyntho Telles da Silva
- psicanalista e escritor; membro de Biblioteca Sigmund Freud -
Virgínia Helena Vianna Rocha
- advogada,  poeta e escritora -
 Waldomiro Carlos Manfroi
- médico e escritor; Ex-Diretor da Faculdade de Medicina (UFRGS);
Membro da Academia Sul-Riograndense de Medicina
Membro da Academia Sul-Riograndense de Letras
Professor Emérito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul -

Dia 13 /09
Às 19h
Sarau coordenado por
Cristina Macedo
- poeta e escritora, Membro da Academia Literária Feminina -
Com a participação de
Renato de Mattos Motta
- poeta -
Virgínia Helena Vianna Rocha
- advogada,  poeta e escritora -

Coordenação Geral
Virgínia Helena Vianna Rocha

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