From Elisabeth Cimenti: "Caon, vou tentar visitar o teu blog e endereços. Não me manejo muito bem
nestas coisas, mas vou tentar. É uma forma de encontro."
Elisabeth, já que vais ver o meu blog que andou parado e
quase desativado por um tempo, então devo mesmo reavivá-lo.
Atualmente me dedico mais às duas CES (Comunidade Epistolar
Solidária) tanto no yahoo como no facebook. E é em uma parceria com o
Karnas, que tu conheces pela Sônia Mara Karnas.
Quanto a encontros semipresenciais via existência digital (conversar
com a ponta dos dedos, como fazemos neste instante), me parece uma
possibilidade muito propícia que vem substituir a literatura epistolar dos
escreventes que há mais ou menos 50 ou 60 anos a faziam pelo Correio
Comum.
Hoje, isso é viável pelo Correio Eletrônico. Mas, a prática de
interrelações e conversações imediatas, em cima do lance, é novidade desde o
advento da internete e costuma ser mais praticada pelo telefone ou skype.
E como sabes, brasileiro que sofre da maldição do índio e do negro
escravo, apesar de ser falante, podia usar mais a fala, e
sendo escrevente, quase não usa o escrever. Parece que para muitos de
nós o falar é privilégio dos ORADORES e o escrever é PRIVILÉGIO dos ESCRITORES.
Por falar em escrever, como te sentes depois da
"pubellication" de teu livro lançado em tarde de autógrafo? Bj jlcaon
ESTRELA PENTALFA
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Pascácia é crédula. Simples e prática,
imediatamente solidária e prestativas. Mas é crédula. É cristã, cristianíssima.
Mas é crédula. Ela nunca ouvira fala de Sancho Pança antes de eu lhe ter lido
algumas aventuras desse homem simples.
Pascácia sabe ler. Quando estava se alfabetizando,
notou que se escreve com a letra “z” a palavra “paz”. Então, ela mesma sabendo
que na certidão de nascimento o nome dela estava escrito com a letra “s”, isto
é, “Pascácia”, achou bonito escrever o nome dela com “z”, “Pazcácia”.
- Meu nome – me conta ela – se fala da mesma
maneira: tanto faz se escrito com “s”, “Pascácia” ou com “z”, “Pazcácia”.
Quando Pascácia fala o nome dela, carrega e alonga
a primeira sílaba, a tal ponto que já houve quem achasse que o nome dela é
palavra proparoxítona e não paroxítona com ditongo descrescente: Páááazzzcacia
e não Pascácia. Quem prestar atenção à fala dela, ouve que ela também acentua e
prolonga as sílabas “pas” “pes”, “pis”, “pos” e “pus” ou “paz” “pez”. “piz”,
“poz” e “puz” em todas as palavras em que aparecem essas sílabas.
Ao conhecer Gioconda, Pascácia apresentou-se assim:
- Meu nome é “Pááázzzcacia”. Sou do
“Apooozzztoladado da Oração” da Paróquia de São Luís.
Pascácia é católica e apostólica e romana. Isto é,
continua sendo supersticiosa como um romano, crédula como um católico papista e
apostólica como uma senhora do Apostolado da Oração. Não lê os livros da Bíblia
nem outros. Entretanto, aprecia que se lhe leia os livros da Bíblia ou os
livros que a gente está lendo. Uma das muitas perguntas – a simplicidade a
perdoa por ser indiscreta – que ela faz quando se encontra com alguém é: “Que é
que você está lendo no momento?”
Pascácia sebe de cor muitas orações católicas,
tanto em brasileiro como em latim. Ela descobriu cedo que eu tenho um certo
amor pelo poliglotismo e também um certo desempenho em oito línguas. Isso faz
com que ela acredite que eu sou um cristão abençoado. Para ela eu sou agraciado
pelo Divino Espírito Santo. Segundo ela eu tenho o dom das línguas. Teria ela
razão? De fato, quando falo em língua estrangeira, como francês, inglês, inevitavelmente
falo brasileiro em todas essas línguas.
Pascácia e
Giconda se conheceram numa dessas canículas – dog days – que vêm se abatendo
quase todos os anos sobre o extremo sul do Brasil. Por razões bem diferentes,
as duas ajudam, a comunidade. Dessa vez, a seca inclemente reunia a todos num
único e igual pedido: chuva, muita chuva.
Pascácia e Gioconda me contaram muitos fatos e
casos referentes às canículas e especialmente referentes à última cujos efeitos
ainda perduram em nossas almas, digo, hortas. Lembro-me que depois de elas me falarem
do encontro onde se conheceram e das agruras das canículas por que passaram, eu
escrevi um textinho disfarçado em conto ou crônica ou coisa parecida, apenas
para me exercitar e me manter em forma, como quando se vai a uma academia de exercícios
aeróbicos, tipo musculação e alongamentos, ou exercícios aquáticos tipo natação
e hidroginástica. Consultando meus guardados no meu canhenho eletrônico,
encontro o seguinte:
A crente disfarçada
em beata
e a beata disfarçada em crente
A canícula com estiagem detonava as hortas de
Gioconda e de Pascácia. Sem imitarem a dança da chuva que os índios dançam um
pouco antes de chover, organizaram uma novena de procissões pedindo chuva.
Foi sucesso no primeiro dia e a cada dia a
procissão engrossava.
No sétimo dia, Pascácia visitou Gioconda e quis
ver-lhe a horta. Ficou surpresa, pois a horta de Gioconda estava verde e
viçosa.
- Como pode tua horta estar verde se a minha está
murcha e quase seca e se nossas rezas são as mesmas?
- Comadre! Vai ver que as minhas plantas têm fé e
as tuas não.
Insultada com aquela observação blasfêmica,
Pascácia retruca:
- Conta a verdade. Que é que está se passando?
- Comadre! Depois de cada procissão eu rezo,
digo, rego as hortaliças todinhas.
Pascácia sentindo-se desaforada ainda acrescenta:
- Então, para quê vais às procissões?
- Para regar a alma. Fé é água para a alma e a
água é fé para as plantas.
É conhecida a dança da chuva que os índios fazem
um pouco antes de chover... Como é que sabem se não são meteorologistas?
Saber de índio é saber de índio.
As beatas, sem o saber dos índios, dançam e
desfilam em novenas. Mas, Gioconda sabe que água é fé para a planta e fé é
água para a alma. E ela e as plantas se dão bem.
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