domingo, 21 de novembro de 2010

A sabadoria enquanto ironia melancólica e alegre

Como já lhes contei, ao passar rapidamente pela Livraria Cultura, me surpreendi com uma enorme quantidade de livros da "Ponto de Leitura" que me parece ser uma iniciativa e empreitada do Sindicato Nacional dos Editores de Livros, embora, Objetiva seja a editora. E me surpreendi que ainda um livro traduzido e com 334 páginas fosse vendido por R$ 11,90.

Em outras livrarias, como Saraiva, etc., há uma estante da “Ponto de Leitura” com ofertas semelhantes.

O livro de Bloom que foi objeto de um semestre de seminários, ainda na UFRGS, na segunda parte da década de 90, tratava de "A angústia da influência" tendo o livro mesmo esse título. Eu complementava com "o gozo da influência" e previa, sem me dar conta, que chegaríamos a isso bem mais depressa do que se pode imaginar.

No momento, pelo que estou informado, Ubirajara e Cristina estão com esse livro de Bloom, “Onde encontrara a sabedoria?”. Essa pergunta orienta a leitura do livro todo, mas, há uma explicitação que já aparece na página 13: "Recorro apenas a três critérios em relação ao que leio e ensino: ESPLENDOR ESTÉTICO, FORÇA INTELECTUAL e SAPIÊNCIA."

Esmiúço. Bloom acrescenta uma terceira perspectiva àquilo que Aristóteles e depois Kant tinham proposto como: sensibilidade e inteligibilidade. Daí, um resumo como : 1) esplendor da sensibilidade (exemplo, a forma que a cineasta em The kids are all right apresenta a despedida da caloura e das "mães" dela"); 2) força da inteligibilidade (conceber que é possível, por exemplo, com quatro cortes verticais repartir um bolo em 16 pedaços perfeitamente iguais em tudo); 3) ironia sapiencial (que traduzo para mim, como o conhecimento do coração e o coração do conhecimento.

Me parece que o livro de Bloom é um convite para se visitar a Biblioteca dos Livros Sapienciais (BLS), seja no contexto da religiosidade, seja no contexto da laicidade. “Cristãos que creem, muçulmanos que obedecem, judeus que confiam – em Deus ou na vontade de Deus, têm seus próprios critérios de sabedoria, mas cada grupo precisa normatizar a questão, separadamente, para que as palavras de Deus possa iluminar e sconsolar. Os secularistas assumem um outro tipo de responsabilidade, e sua busca da literatura da sapiência é, por vezes, mais melancólica, ou angustiada, dependendo do seu temperamento. Sejamos religiosos ou não, todos aprendemos a almejar a sabedoria, onde quer que seja encontrada.” (p. 14).

Bloom ainda pergunta: “Qual será a utilidade da sabedoria, se esta só pode ser alcançada na solidão, na reflexão acerca de leituras?” De minha parte, respondo-lhe-me: A sabedoria, em forma de ironia sapiencial, – poderia ser de outra forma - é a própria insocorridade incontornável que se enuncia como alegria melancólica, como esses ocasos esplendidamente alegres pelo fato de serem melancólicos.

http://www.crlemberg.com.br/musicas/nacio/caiatarde.htm

O sábio Bloom adverte no início da página 15: “A sabedoria, seja esotérica ou não, parece constituir uma perfeição capaz de nos absorver ou destruir, dependendo do aporte que a ela trazemos.” Isto é, a mente destroçada se revelará destroçada na hora das partidas e da partida; mas a mente ironicamente sábia sabe que é preciso pagar à Natureza finamentos e finamento.





Bloom prende-se praticamente à alegria irônica da sabedoria, mas, com as mãos presas firmemente nas hastes do arado do esplendor da sensibilidade e da força da inteligibilidade. O ironia alegre da sabedoria é um resultado de quem se põe incansavelmente, como ele, Bloom, as mãos no arado e persiste.

É nas Secções 06 e 07, respectivamente páginas 71-73 e 73-75, onde, Bloom mostra que é capaz de se servir da psicanálise freudiana apalpada por ele à moda lacaniana para vislumbrar uma "filosofia psicanalítica". Mas, é preciso estarmos com o texto na frente dos olhos...



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