quinta-feira, 26 de janeiro de 2012


Falar por amor do falar e escrever por amor do escrever

Por jlcaon@terra.com.br 120126040510

Praticamente, em situação psicanalítica de tratamento, o psicanalisante fala por amor do falar.
Esse amor, vivenciado ilusoriamente como amor pelo psicanalista, suposto sabedor do que se passa na mente do psicanalisante, é reedição do amor pela fala na criancinha, vivenciando a ilusão de tatibitatear por amor aos pais supostos sabedores do que se passa na mente dela.
Chamo ao amor primordial, primeiro e primitivo de “amor de cueiros”, depois chamado amor de transferência.
Igualmente, em situação psicanalítica do escrever, o aprendente escreve por amor ao escrever.
Esse amor vivenciado ilusoriamente como amor a um leitor privilegiado que não escreve, mais embaraça que movimenta o escrevedor. Quando se escreve, não para suposto sabedor, mas para familiar desconhecedor do que se passa na mente do escrevedor, o embaraçamento empaca o escrever.
Haveria pelo menos dois encaminhamentos:
.01. Quanto mais impessoal for o interlocutor do escrevedor, tanto mais a escritura será formação de linguagem e não recitação.
.02. Quanto mais o leitor for escrevedor para leitor que lhe escreve, tanto mais a escritura será formação de linguagem.
A primeira situação exige muito recolhimento e solidão, exercício existencial para poucos mortais.
A segunda, mais acessível ao mortal comum, é a convivência epistolar por cartas ou por e-mails.
O amor pelo escrever do escrevedor dirigido ao amor pelo escrever do leitor-escrevedor, solidariza e solda uma prática de mortais em permanente transitoriedade: eles nunca serão imortais nem na ilusória imortalidade da ABL.

Um comentário:

  1. Olá, Dr.,

    Isso me fez pensar em porque os senhor escreve e pra quem o senhor escreve.
    Gosto dos seus textos, do modo como o senhor usa as palavras de significados antagônicos, me fazem pensar.
    Cordial abraço,

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