sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Verba volant, scripta manent



 


Verba manent, scripta volant

Por jlcaon@terra.com.br

     As palavras voam; os escritos permanecem. Quem pensa que as palavras são transitórias e passageiras negaria a temporalidade. Quem pensa que os escritos são perenes e permanentes negaria a espacialidade.
     As palavras pronunciadas são para sempre: palavra, uma vez palavrada, é palavra para sempre. Fio de bigode não é palavra. Pode ser palavra gestualizada. Os escritos voam nas asas das folhas de papel e nas ondas rapidíssimas das folhas eletrônicas da internete.
     Depois que se disse uma fala, essa fala produzida no instante do presente, esse dito se torna passado e, enquanto tal, torna-se inapagável. Todos podemos dizer que a fala que dissemos comporta outros sentidos, atualmente, no presente momento. Isto é, sempre podemos desdizer-nos. Mas, nunca poderemos apagar o que dissemos pela fala.
     Aquele que fala escreve nas folhas do livro do tempo, que viram irreversivelmente. Uma vez virada a folha do livro do tempo – e isso acontece no mesmo instante em que ela se epifana – nunca mais poderá ser recuperada enquanto tal e, consequentemente, jamais poderá ser deletado aquilo que nela foi e continua escrito.
     Perdoar ou perdoar-se pelo que se disse é desmentir ou desmentir-se, jamais apagar ou deletar aquilo que se disse. Perdoar ou perdoar-se é no mínimo desesquecer ou desesquecer-se. Uma vida é um “liber scriptus” (...) “in quo totum continetur”.
     Falar com a ponta dos dedos em existência digital é falar? É escrever? É uma e outra coisa? Não é nenhuma das duas? Mas, certamente, certamente é existir digitalmente.



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