Silêncios eloquentes e ruídos de fala
Por jlcaon@terra.com.br
A fala poética faz parte predominantemente dos silêncios entre quais ela emerge. A fala prosaica faz parte predominantemente dos ruídos entre os quais ela surge. Temos, pois, uma fala pura e simples e uma fala sobre fala(s). A primeira é preponderantemente visceral. A segunda é preponderantemente fala que remete a outra(s) fala(s).
A primeira brota predominantemente do silêncio e instaura algo novo naquilo que diz. É como se fosse a própria coisa. A outra brota predominantemente do diálogo com o outro, pois que diálogo existe quando uma fala se remete a fala(s) do outro.
Esta é preponderantemente um jogo a dois. Aquela é predominantemente prorrompimento puro e simples.
Observe-se que uso diversas vezes “predominantemente”. É como na situação ENTRE - (entre Erlebnis (vivência) e Erfahrung (experiência) -, onde o sujeito da gente, instantâneo, transitório, fugaz, desaparece no exato momento em que surge, isto é, numa existência instantânea, estúpida, estupefata, inefável e inagarrável. A situação ENTRE é a que nos determina na fala que ora é predominantemente pura e simples (poética) ora é predominantemente fala sobre fala(s) (prosaica), sem ser absolutamente uma sem a outra.
Quando Yupanki diz que um grande silêncio cresce dentro dele, não é fazendo silêncio absoluto que ele denuncia essa situação, mas, se pondo entre o silêncio e o ruído. Mesmo quando Heidegger faz silêncio perante a teologia, ele não faz silêncio absoluto, pois diz que honra a teologia fazendo-lhe silêncio essencial.
http://www.youtube.com/watch?v=CaBmuvJImg8
Le tengo rabia al silencio
Atahualpa Yupanqui
Le tengo rabia al silencio
Por lo mucho que perdí.
Que no se quede callado
Quien quiera vivir feliz.
Un día monté a caballo,
Y en la selva me metí,
Y sentí que un gran silencio
Crecía dentro de mí.
Hay silencio en mi guitarra
Cuando canto el yaraví,
Y lo mejor de mi canto
Se queda dentro de mí.
Cuando el amor me hizo señas,
Todo entero me encendí.
Y á fuerza de ser callado,
Callado me consumí.
Le tengo rabia al silencio
Por todo lo que perdí,
Que no se quede callado
Quien quiera vivir feliz.
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