sábado, 4 de fevereiro de 2012

Na partitura musical, a pausa também se chama silêncio. A folha em branco é nada. Só há silêncio, quando há fala. Ausência de fala é morte. Defunto não guarda silêncio.

Silêncios eloquentes e ruídos de fala



Por jlcaon@terra.com.br



A fala poética faz parte predominantemente dos silêncios entre quais ela emerge. A fala prosaica faz parte predominantemente dos ruídos entre os quais ela surge. Temos, pois, uma fala pura e simples e uma fala sobre fala(s). A primeira é preponderantemente visceral. A segunda é preponderantemente fala que remete a outra(s) fala(s).

A primeira brota predominantemente do silêncio e instaura algo novo naquilo que diz. É como se fosse a própria coisa. A outra brota predominantemente do diálogo com o outro, pois que diálogo existe quando uma fala se remete a fala(s) do outro.

Esta é preponderantemente um jogo a dois. Aquela é predominantemente prorrompimento puro e simples.

Observe-se que uso diversas vezes “predominantemente”. É como na situação ENTRE - (entre Erlebnis (vivência) e Erfahrung (experiência) -, onde o sujeito da gente, instantâneo, transitório, fugaz, desaparece no exato momento em que surge, isto é, numa existência instantânea, estúpida, estupefata, inefável e inagarrável. A situação ENTRE é a que nos determina na fala que ora é predominantemente pura e simples (poética) ora é predominantemente fala sobre fala(s) (prosaica), sem ser absolutamente uma sem a outra.

Quando Yupanki diz que um grande silêncio cresce dentro dele, não é fazendo silêncio absoluto que ele denuncia essa situação, mas, se pondo entre o silêncio e o ruído. Mesmo quando Heidegger faz silêncio perante a teologia, ele não faz silêncio absoluto, pois diz que honra a teologia fazendo-lhe silêncio essencial.



http://www.youtube.com/watch?v=CaBmuvJImg8



Le tengo rabia al silencio

Atahualpa Yupanqui



Le tengo rabia al silencio

Por lo mucho que perdí.

Que no se quede callado

Quien quiera vivir feliz.

Un día monté a caballo,

Y en la selva me metí,

Y sentí que un gran silencio

Crecía dentro de mí.

Hay silencio en mi guitarra

Cuando canto el yaraví,

Y lo mejor de mi canto

Se queda dentro de mí.

Cuando el amor me hizo señas,

Todo entero me encendí.

Y á fuerza de ser callado,

Callado me consumí.

Le tengo rabia al silencio

Por todo lo que perdí,

Que no se quede callado

Quien quiera vivir feliz.


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