sexta-feira, 16 de março de 2012

Se a angústia da teoria leva à teoria da angústia

Da angústia da teoria e da teoria da angústia

Por jlcaon@terra.com.br



A angústia é o que pressentimos e sentimos ao intuirmos ou concebermos o Outro (personalizado como Grande Outro ou Pequeno Outro encara à moda de Grande Outro) como incompleto, faltoso, logo, desejante. Que é que Ele quer de mim? Ele ME quer ? Ele quer que eu O queira ? Como Ele quer que eu O queira ?

Nossa angústia encontra a razão de ser no desejo presente no Outro. Se o Outro deseja, então esse Outro está incompleto, carente, faminto. Perante o desejo no Outro, eu corro perigo, me angustio.

Como é que posso pacificar esse ímpeto perigoso brotando do Outro? Posso distraí-lo oferecendo-lhe, no meu lugar, o filho, como Abraão oferece ao Outro Supremo o filho Isaac. Abraão salva a pele, mas scarificaria o filho ? Há um jeito de Abraão matar a fome do Outro Supremo e salvar o filho querido? Quem sabe, tirar o filho do altar do sacrifício e por no altar, no lugar do filho, um bode, o bode expiatório. Mas, quantos bodes terá que por, se depois do último sempre é possível por mais um? Para liquidar esse assunto de uma vez por todas, no lugar do bode, quem sabe botar um pedaço de carne que uma vez cortado não volta mais? E assim nasce a circuncisão. Uma vez feita vale por todas as vezes. A circuncisão não é uma CASTRAÇÃO (emasculação, amputação do pênis ou "exculeação" dos testículos, ou ambas as coisas, não é eunuquização), é uma INCISÃO que extirpa o prepúcio, incisão que fica marcada sob a forma de cicatriz. É o batismo do crente semita, judeu ou muçulmano, ou do crente cristão, semita ou ariano, por exemplo, cristão copta, etc. Os profetas hebreus insistiam sobre o abandono do sacrifício carnal dos prepúcios do pênis dizendo que o Outro Grande, enquanto Deus, pedia e esperava o sacrifício dos prepúcios da mente e dos corações da onipotência, do orgulho, da arrogância, etc. O cristianismo, Jesus e Paulo de Tarso à frente, abolem totalmente essas práticas.

Freud é infeliz quando utiliza o termo CASTRAÇÃO (Kastration) e não o termo INCISÃO (Einschnitt). INCISÃO é corte, talho, abertura, soltura, liberação. Não é remoção de obstáculo, noção de intervenção didático-pedagógica que impede que a correnteza da um córrego flua espontaneamente. Educação é dirigir a partir de dentro, do interno, é noção próxima de eclosão, desabrochamento, épanouissement. Incisão é traçado de linha num plano cujo resultado o plano fica alterado. Incisão é corte cujo resultado destrói a esfera oca transformando-a num círculo bidimensional tipo prato, bolacha. Essas operações são operações do Simbólico que incidem na Linguagem e pela linguagem, 1) simbolificam, isto é, relativizam e flexibilizam o Imaginário dogmático e engessado; por outro, 2) simbolificam, isto é, dão eficácia ao Real impossível, se tornando matema alfanumérico ou fórmula psicanalítica, “acificado” (stalinificado), mais duros que o diamante capaz, quando aplicado, ser capaz de cortar tudo sem que algo seja capaz de cortá-lo.

Há princípios indemonstráveis por que são evidentes, a partir dos quais se louvam a Lógica de Aristóteles e a Geometria de Euclides. Há princípios indemonstráveis por que, enquanto axiomas, a todo momento é mostrado pela prática que, de fato, operam e funcionam. Nesse sentido, com princípios indemonstráveis, por que autoevidentes ou por que práticos, nada mais prático que uma boa teoria.

ele Que l'angoisse, chez Lacan, soit référée au désir de l'Autre et donc au manque qui l'affecte, nous permet de repérer le rôle qu'y joue la fonction phallique puisque si le phallus manque à venir dans le champ où l'objet "a" se présente comme tel, alors s'impose la question de ce que me veut l'Autre, la question du désir de l'Autre, sans qu'aucune nomination ne permette de l'organiser, de la lier dans la signifiance"

Um comentário:

  1. Estimado Caon,
    fiquei pensando sobre esse texto, sobre a flexibilização e simbolização pela linguagem, quando arriscamos a linguajar se faz incisões, talvez uma letra que se realiza deixando sua marca no Outro?
    Tenho uma amiga poeta Maria Carpi que tem um livro chamado: Abrão e a encarnação do verbo, ela fala sobre o sacrifício de Abraão, e ela me disse que considera que naquele momento em que Deus pede o sacrifício do filho, Abraão desafia Deus a também oferecer o seu (depois Jesus).
    Abraço
    Angélica

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